Outubro 2006


Não basta construir escolas. Um dos gargalos que impedem a erradicação da pobreza é a educação de péssima qualidade.

A escola da foto é dedicada a alfabetização de crianças em Benin, ex-colônia francesa da África Setentrional. Só para constar: o país tem 55% da sua população masculina analfabeta. Entre as mulheres o quadro é pior, 74% não sabem ler ou escrever.

O Índice de Desenvolvimento Humano em Benin é de 0,421 (é o 160º do ranking) . Para efeitos de comparação: a Noruega, a primeira colocada do ranking, tem IDH de 0,963. O Brasil é o 65º lugar com IDH de 0,792.

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Lula venceu. Tudo bem, já era esperado. Mas venceu em segundo turno, coisa que ninguém imaginava. Lembrando do ano passado, nos tempos de mensalão, pensava-se que Lula não conseguiria a reeleição. Ao final do ano tudo mudou. A candidatura do PT voava em céu de brigadeiro. A vitória era considerada certa em primeiro turno. Os tucanos apresseram-se para escolher Alckmin como candidato do PSDB. Ia ser derrotado mesmo, melhor escolher um candidato fraco.

Geraldo Alckmin se mostrou forte em eleições. Não era tão “picolé de chuchu” como se dizia. Conseguiu crescer e ameaçar, mesmo que de longe, uma virada no segundo turno. Porém os votos para virada não apareceram. Pior, diminuíram. O PSDB perdeu 3 milhões de votos de um turno para o outro.

A diminuição de votos em Alckmin tem, em parte, relação com as privatizações do governo Fernando Henrique. O PT acusou o PSDB de venda de empresas estatais. Alckmin engoliu a isca lançada por Lula no debate da Band (afirmou veementemente que iria vender o Aerolula, por exemplo). Ficou fácil, Lula cresceu.

Além disto, é preciso dizer a verdade, Lula é um fenômeno na comunicação com a população mais humilde deste país. A comparação das cenas dos candidatos nas ruas nesta eleição não deixam dúvidas. O povo gosta de Lula, não gosta de Alckmin. Eram pessoas agarrando Lula, pulando nele. Ao candidato tucano, apenas apertos de mãos, tapinhas nas costas. Tudo muito frio. Questão de carisma.

O último e grande diferencial desta eleição são as políticas sociais do governo Lula (chamado de assistencialismo por algumas pessoas). A população interage com estes investimentos, precisa deles. Por isto vota na manutenção destas políticas.

Lula lá mais quatro anos. Provavelmente um governo com muitas diferenças em relação ao primeiro (o antigo núcleo duro foi varrido pelas denúncias de corrupção). Quanto a Alckmin, entrou para perder e deu trabalho. Sai fortalecido desta eleição,  pode tentar uma candidatura à presidência em 2010. Só não sei se Aécio e Serra irão permitir.

Em tempo de eleições só se fala em desenvolvimento. Sei não, em vez de desenvolver seria melhor equilibrar o que já existe.

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O general Augusto Pinochet, hoje com 90 anos, volta e meia aparece no noticiário. Sempre na seção criminal, o ditador é muito ativo: Violação de direitos humanos, crimes de corrupção ativa e passiva e agora, ao que parece, sonegação fiscal.

Pinochet teria, em um banco em Hong Kong (HSBC), o total de 9 toneladas de ouro (180 milhões de dólares). O banco já afirmou que a informação é falsa. Mas quem confia nos bancos, não é mesmo?

No Brasil, uma devassa nas contas das pessoas ligadas à ditadura não seria nada mal. Muita gente graúda iria suar frio.

Quando fiquei sabendo da história de dona Dora, imediatamente me coloquei ao seu lado. Na zona sul do Rio, Maria Dora Arbex, uma senhora de 67 anos,  baleou a mão do bandido que tentava assaltá-la. O ladrão foi preso e dona Dora também. Ela não tinha porte de arma.

Mesmo sabendo da necessidade do rigor com o porte de armas e do quão perigoso é reagir a um assalto, não consigo deixar de alegrar-me em ver o bandido levando a pior. Eu sei, é contradição, mas fico feliz ao imaginar a cena. O sujeito pensando: “Vou fazer um ganho nesta velhinha.”  E depois sendo surpreendido com o trabuco da vovozinha.

Como bem disse Vinícius, tristeza não tem fim, felicidade sim. Eis que d. Dora foi condecorada com uma medalha pela câmara municipal do Rio pelos bons serviços prestados à cidade. Não considero balear alguém, nem mesmo um ladrão, um bom serviço. Entretanto, apesar de ver a comenda como absurda, não tenho nada com isto. Sou cidadão niteroiense, os cariocas que condecorem lá quem quiserem. Minha tristeza surgiu do discurso de dona Dora ao receber a medalha. Quanta decepção!

Com uma língua tão rápida quanto seu gatilho, Dona Dora explicou que, para ela, favelado, morador de rua e bandido é tudo igual. A solução é jogar balde d’água e ovo para ver se saem das ruas. Entre várias declarações, ela afirmou: “se não tem lugar para tanta gente nos albergues, é melhor colocar todo mundo em um navio e levar para alto-mar”. Ela também falou que a prefeitura deveria fazer uma limpeza nas ruas, tirando toda “esta gente” das calçadas. Limpeza é para tirar sujeira e lixo. Será que para dona Dora “esta gente” é lixo?

E outra pergunta mais importante: quantas donas Doras não existirão por aí?

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_Para a matéria sobre a medalha dada a velhinha que acertou o ladrão, clique aqui.

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