Dia dos professores


Estou de feriadão. Hoje, como todos os brasileiros gozo da bênção de  nossa senhora de aparecida materializada em um dia de descanso. Por conta do descanso volto a escrever  depois de longo período de inatividade.

Como todos sabem o dia 12 de outubro  guarda uma peculiaridade, é o dia encontrado pelo comércio para salvar o período de vendas entre o dia dos pais e o natal. Criou-se aí o dia das crianças. Comerciais de brinquedos e roupas infantis tomam o espaço na mídia impressa, falada e televisiva. A todo momento nos lembram dos direitos das crianças. Que maravilha é ser criança!

Talvez para ajudar nesta  reflexão, deu-se a coincidência de que apenas três dias depois do dia das crianças ocorre o dia do professor. No caso dos professores a situação é diferente. Nada de chamadas comerciais criativas ou lembranças dos direitos dos professores. Quando muito, uma matéria esquecida em um canto de jornal sobre as agruras da vida docente.

A diferença de tratamento entre as duas efemérides pode nos dizer algo. Realmente, crianças são fundamentais e representam, desculpe o clichê, o futuro da cidade, da nação, do planeta, da existência humana. Este pensamento é verdadeiro, mas traz a necessidade do seguinte complemento: o ser humano não se forma sozinho. Ele depende de alguém que lhe dê o caminho a seguir, informe quais os códigos sociais aceitos e de como se integrar à comunidade.

Há muito tempo esta tarefa era feita por várias instituições. Família, igreja, comunidade e escola dividiam o trabalho árduo de conduzir os infantes à vida social. A igreja perdeu seu poder e influência ao longo do século XX.  A  impessoalidade das relações sociais urbanas impede que haja o cuidado comunitário sobre as crianças. A família se omite da tarefa de educar. Pais e mães, culpados pela ausência na vida de seus filhos, preferem comprar presentes a fazer valer as regras da vida social. Quem fica com o pepino nas mãos?

A escola? Não! Esta, se for particular está preocupada demais com a concorrência e com as contas no final do mês para fazer alguma coisa. Se for pública, os compromissos eleitorais dos donos do pedaço impedem que o trabalho educacional seja realizado (diretores são indicados pelos vereadores e deputados, que precisam garantir os votos dos pais daqueles alunos).

O aluno, mimado pelo consumo descabido gerado pela omissão familiar e fortalecido pelo poder paterno sobre escolas acuadas política e economicamente, entra em sala e quem ele encontra? O professor.

Um feliz dia dos professores a todos os meus colegas que tentam realizar esta tarefa para lá de hercúlea.

E a vocês que são alunos, pais de alunos, políticos, donos de escola, diretores, coordenadores, eu peço: tratem bem seus professores.

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_ A imagem que inicia este post vem da comunidade sobre professores com mais membros no orkut. Para visitá-la, clique aqui.

Diz a sabedoria popular que para tudo há um lado bom. A profissão docente não poderia ser diferente. Também há um lado bom em ser professor. Até mais de um.

É um trabalho sem rotina. Raramente o que se faz em um dia se fará no outro. Outro ponto interessante é que o professor raramente fica ultrapassado. Está em contato diário com as últimas modas, tecnologias, pensamentos, linguagens, gírias, bobagens, tudo! Quer saber o que a juventude está falando e fazendo, o que eles estão pensando, lendo, vendo e ouvindo, pergunte a um professor.

Existem também as vantagens da carreira. São, no mínimo, 45 dias de férias por ano. Os 30 da lei e mais 15 do recesso de julho. Além de feriados prolongados e carnaval de 7 dias. Outro tremendo benefício é a aposentadoria especial. Enquanto os outros profissionais tem que trabalhar até os 60 anos, com 35 de contribuição (homens, mulheres tem desconto de 5 anos),  os professores se aposentam com 55 anos, com 30 de contribuição.

Outra vantagem de ser professor é o convívio com os alunos. É realmente gratificante auxiliar o desenvolvimento de uma pessoa. Além de encontrar e fazer amizade com pessoas muito interessantes e interessadas. Realmente é fantástico. Claro que sempre existe um grupo de maletas-sem-alça (que tem aumentado de maneira exponencial nos últimos anos, é verdade), mas os alunos interessados compensam cada dia de trabalho.

Durante o segundo grau, por imposição materna, fiz o curso técnico de contabilidade. Ela dizia que o importante era ter uma profissão, depois eu escolheria ser iria ou não continuar na carreira. Tinha facilidade com números, então lá fui eu.

Era fácil. A turma era terrível, salvavam-se poucos, eu sobressaía com pouco esforço. Tirava 10 em praticamente todas as matérias, ganhei até medalhinha de melhor aluno. Mas não queria nada daquilo para minha vida. Não suporto trabalho de escritório. Principalmente trabalho repetitivo. Precisava de algo mais dinâmico, com menos rotina, cada dia em um lugar, lidando com coisas diferentes e com pessoas diferentes.

Época de vestibular, muitas dúvidas, mas muitas descobertas também. Incialmente pensava em prestar o exame para psicologia. Tinha um tio psicólogo, achava interessante as percepções que ele tinha das pessoas. O conhecimento da mente sempre me fascinou. No entanto,  naquela época a História estava viva demais para passar desapercebida.

Fiz o vestibular numa período sensacional: queda do muro de Berlim, esfacelamento da União Soviética, Guerra do Golfo, Impeachment do Collor. Todos os eventos eram exaustivamente discutidos por mim e meus amigos. Éramos apaixonados pela história. Não havia como não ser. Por isto, secretamente, ao fazer minha inscrição para UERJ, coloquei como opção de carreira: História. Era o que eu queria.

Para as outras duas universidades, UFRJ e UFF, coloquei psicologia. Afinal a pressão familiar não era fácil. Mama não queria mais um professor na família. Não só ela. Lembro até hoje, depois de ter falado que iria fazer vestibular para História, um tio me disse: “Isto é bobagem, tem que fazer algo que dê dinheiro. Vai ser o quê, professor? Você deve estar brincando!”

E lá fui eu fazer o vestibular. Bombei na UFRJ. As provas são discursivas, não tinha base. No curso de contabilidade não tinha física, química, biologia, geografia, literatura, geometria. Perdi. Fui melhor na UFF, passei para a segunda fase, com chances de entrar. Mas na prova final, tive uma faringite. Fui fazer a prova com 40 graus de febre. Perdi também. No vestibular da UERJ fui bem na primeira fase. Na prova da segunda fase, quase não acordei (e viva à buzina do caro do seu Edmo, pai do Mauro). Fiz uma boa prova e passei.

Em 15 de outubro de 1827, dia de homenagem à santa educadora Tereza D’Ávila, o imperador D. Pedro I decretou a Lei geral relativa do ensino elementar, a primeira lei brasileira sobre educação. Esta lei, equivalente imperial da atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), tratava de diversos assuntos: salários dos professores, currículos mínimos, escolas para meninas, admissão de professores, entre outros.

A data da criação da lei passou a ser festejada todos os anos nas escolas, ainda que de maneira informal. Em 1950, um deputado de São Paulo aprovou na Câmara Federal a transformação do dia 15 de outubro em feriado dedicado aos professores.

A ONU criou uma outra data para a celebração. O dia mundial dos professores ocorre dez dias antes da data brasileira, no dia 05 de outubro.

Deu em O Dia: mais de 81 mil professores públicos do estado do Rio de Janeiro entraram de licença médica. Deste total, 61% alegou (49 mil profissionais) sofrer estresse, depressão, síndrome do pânico e ansiedade.

Uma colega me contou um caso que ajuda a compreender, em parte, o porquê dos problemas emocionais dos professores.. Durante sua explicação, a aluna virou para ela e disse: “Ô professora, fica quieta aí que eu quero ler um troço aqui”. A minha colega ainda tentou explicar: “Olha, minha função é esta. Sabe como é, tenho que falar…” 

Muitos alunos não sabem para que serve o colégio. Para alguns deles é coisa de outro mundo. Aliás, é comum eu ouvir ao chegar a uma escola: “Professor, você vai dar aula?” E eu respondo: “Como assim cara-pálida? Escola, alunos, professor… Isto não te lembra nada não?”  Ao que o aluno diz: “Ih fessor, tá estressado hein?!”

Ele está certo. Estou estressado. Eu e todos os meus colegas.  É impossível eliminar a ignorância sozinho, sem nenhum, absolutamente nenhum, tipo de apoio. Governos, pais, diretores, secretarias, coordenadores, alunos, todos são unânimes em dizer que a educação é fundamental. No entanto ninguém se preocupa em auxiliar os professores em seu trabalho. Talvez seja possível educar sem os educadores.

Os professores lutam pela educação.  Lutam, mas estão perdendo feio.

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